quarta-feira, 7 de maio de 2014

                           Tradicionalmente...






Hoje, saí pra ver o céu cinzento lá fora, 
sem estrelas, sem lua, sem vaga-lumes.
 O céu, uma bonita aquarela de cinzas, 
tons tão vários, inomináveis.É, 
o senhor do pincel borda paisagens únicas, 
cada forma de olhar e perceber a pintura é 
realmente íntima. Eu....vi um céu múltiplo, 
ainda que na variedade de uma mesma cor. 
Maré cheia e vida enlouquecida: Pressa no trânsito, pessoas,
pessoas, pessoas... 
Pessoas, pessoas! 

Entendi melhor aquela música "Pela janela, 
vejo fumaça, vejo pessoas". 
Penso que é a janela da alma, pois foi a percepção
 -minha- deste passeio ao mundo. 
No embaçado do traquejo social, 
não vejo muito dessa coisa de estar acompanhado:
 é a clássica do Nietzsche "Detesto quem me rouba 
a solidão sem em troca oferecer verdadeira companhia". 
Por isso, talvez, não veja diferença entre estar e
m um local público ouvindo meu blues, rock 
ou mpb ou em casa, com meus livros e poesias - 
e as mesmas
 boas e (e)ternas notas musicais. 

Vi curiosidade maldosa, curiosidade inocentemente maliciosa, 
empatia de "eu te entendo" de quem não preciso e não compartilho
 da opinião - porque tudo que é amor envolve a proteção do vivenciado. 
Percebi que estar e lidar consigo e com sua própria solidão ou companhia 
(porque é preciso fazer companhia para si- e a isso se chama vida interior),
parece ser realmente uma dificuldade natural do ser humano. 
Como a curiosidade alheia, muito bem administrada, pois eu, 
ainda que sob luzes artificiais, mantenho-me vaga-lume. 

Não vejo como pior ou como melhor essa forma de encarar o tempo, 
a vida, e a nossa evolução ou permanência. 
Penso que é belo o poder da escolha. 
Li em mentes bondosas a ausência de uma certa paisagem e percebi a
 empatia no trato, no gesto. Aí me recordei o quanto "a humanidade é
desumana, mas ainda temos chance". Bondade alheia, despretensiosa. 
Prezo isso e tento, tento mesmo exercitar. Não li algumas coisas que
 gostaria de ter lido...nas entrelinhas da vida. É, preciso do literal, 
pois sou literalmente viva e tão de literatura. Mas...entendo. 

Desfolhei um pouco sem desprender. O que isso quer dizer? 
que mantenho a fé de que o amor tem diversas faces e meios de se fazer presente...
"tudo que move é sagrado". E, como fui feita  de um delicado material artesanal 
que pulsa, tudo é tempo...tempo,tempo. Lento ou acelerado. 
Deixo ao sabor do senhor do vento... Mas gosto dessa lentidão macia. 
Do processo. De estar aqui, precariamente existente. 
Feito esse céu de tantos cinzas! - Que vai amanhecer em água, regando a vida.


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