Tradicionalmente...
Hoje, saí pra ver o céu cinzento lá fora,
sem estrelas, sem lua, sem vaga-lumes.
O céu, uma bonita aquarela de cinzas,
tons tão vários, inomináveis.É,
o senhor do pincel borda paisagens únicas,
cada forma de olhar e perceber a pintura é
realmente íntima. Eu....vi um céu múltiplo,
ainda que na variedade de uma mesma cor.
Maré cheia e vida enlouquecida: Pressa no trânsito, pessoas,
pessoas, pessoas...
Pessoas, pessoas!
Entendi melhor aquela música "Pela janela,
vejo fumaça, vejo pessoas".
Penso que é a janela da alma, pois foi a percepção
-minha- deste passeio ao mundo.
No embaçado do traquejo social,
não vejo muito dessa coisa de estar acompanhado:
é a clássica do Nietzsche "Detesto quem me rouba
a solidão sem em troca oferecer verdadeira companhia".
Por isso, talvez, não veja diferença entre estar e
m um local público ouvindo meu blues, rock
ou mpb ou em casa, com meus livros e poesias -
e as mesmas
boas e (e)ternas notas musicais.
Vi curiosidade maldosa, curiosidade inocentemente maliciosa,
empatia de "eu te entendo" de quem não preciso e não compartilho
da opinião - porque tudo que é amor envolve a proteção do vivenciado.
Percebi que estar e lidar consigo e com sua própria solidão ou companhia
(porque é preciso fazer companhia para si- e a isso se chama vida interior),
parece ser realmente uma dificuldade natural do ser humano.
Como a curiosidade alheia, muito bem administrada, pois eu,
ainda que sob luzes artificiais, mantenho-me vaga-lume.
Não vejo como pior ou como melhor essa forma de encarar o tempo,
a vida, e a nossa evolução ou permanência.
Penso que é belo o poder da escolha.
Li em mentes bondosas a ausência de uma certa paisagem e percebi a
empatia no trato, no gesto. Aí me recordei o quanto "a humanidade é
desumana, mas ainda temos chance". Bondade alheia, despretensiosa.
Prezo isso e tento, tento mesmo exercitar. Não li algumas coisas que
gostaria de ter lido...nas entrelinhas da vida. É, preciso do literal,
pois sou literalmente viva e tão de literatura. Mas...entendo.
Desfolhei um pouco sem desprender. O que isso quer dizer?
que mantenho a fé de que o amor tem diversas faces e meios de se fazer presente...
"tudo que move é sagrado". E, como fui feita de um delicado material artesanal
que pulsa, tudo é tempo...tempo,tempo. Lento ou acelerado.
Deixo ao sabor do senhor do vento... Mas gosto dessa lentidão macia.
Do processo. De estar aqui, precariamente existente.
Feito esse céu de tantos cinzas! - Que vai amanhecer em água, regando a vida.
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